Era sexta-feira santa.
Noite a dentro,
Beralda deixava para a sucessora
seu canto pungente.
Verônica era.
Era Verônica pela última vez.

Subia Beralda a alameda
João Rodrigues Ramos.
Mágoas e lágrimas contidas.
Em negro ia.
Um desenho nublado
em noite enevoada.
Antecipava-se à chegada da procissão.
Solitária, Beralda ia
para o seu último solo,
de missão cumprida.
Carregava na bruma, a espuma
de um sonho que, por ser humano,
se desfazia.

Ia Beralda cumprir seu desígnio...
Pela última vez,
plenificou os pulmões.
Cantou soprano - - dramática.
Afinou-se...
Foi um lamento exaltado.
As névoas fecharam
os cumes da serra.
As aves noturnas,
mudas, ouviram.
As musas estremeceram
no aconchego dos tempos...

 

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